De maneira geral, ao compararmos a distribuição de gordura que prevalece entre homens e mulheres, é possível notar uma diferença no padrão de localização do maior estoque de tecido adiposo entre os sexos. Talvez você já tenha até ouvido falar em corpos tipo “pêra” ou tipo “maçã”: se pensarmos no formato dessas frutas, a pêra tem uma silhueta mais proeminente na parte de baixo, assim como o corpo das mulheres; já a maçã é mais arredondada na porção central, assim como os homens. Mas o que determina essa diferença?
Entre uma das importantes funções exercidas pelos hormônios sexuais femininos e masculinos está o “direcionamento” da deposição de gordura. O perfil hormonal que prevalece nas mulheres antes da menopausa, com marcada presença dos estrógenos, principalmente o estradiol, comparado com o dos homens de maneira geral, em que prevalece a testosterona, predispõem o acúmulo de gordura na região dos quadris e na sua forma subcutânea, ou seja, logo abaixo da pele.
Em um mundo de redes sociais e exposição à corpos perfeitos - e em sua maioria, irreais ou, pelo menos, não “naturais” - esse fato costuma incomodar bastante do ponto de vista estético, até porque a maior quantidade de gordura nesses locais também está relacionada à maior presença de celulites. No entanto, há de se falar que a distribuição de gordura feminina é muito menos potencialmente prejudicial à saúde do que aquela dos homens. Eles tendem a acumular mais na região central do corpo e na forma de gordura visceral, aquela que se localiza entre/envolvendo os órgãos e que é muito mais perigosa do ponto de vista da saúde metabólica e cardiovascular.
É importante ressaltar que o acúmulo excessivo de gordura, independente do local/tipo, não é benéfico para a saúde. O tecido adiposo tem uma capacidade relativamente alta de crescer em tamanho quando aumenta a necessidade de estocar gordura no corpo (o que acontece, por exemplo, quando se consome muito mais calorias do que se gasta). Mas como tudo no corpo, ele apresenta um limite. Se for forçado além desse limite, suas células começam a se tornar disfuncionais e esse tecido adquire uma característica extremamente inflamatória.
O infiltrado de células imunes e a característica pró - inflamatória que acabam desenvolvendo, faz com que o tecido adiposo em excesso seja um verdadeiro sítio de inflamação (o que tem relação com o surgimento das celulites e piora do aspecto da pele nesses locais). Apesar disso, é necessário manter uma certa proporção de gordura no corpo porque ela também apresenta funções vitais para o organismo, como a questão muito falada da produção hormonal.
Na verdade, quando focamos nas mulheres, manter os níveis hormonais adequados é imperativo para a questão da fertilidade, manutenção do ciclo menstrual e, inclusive, para manter o padrão de distribuição de gordura do “corpo tipo pêra”. Logo que entram na menopausa e tem baixa desses hormônios, as mulheres começam a mudar o padrão de distribuição de gordura e aumenta a concentração na forma visceral e na região abdominal, um dos fatores que explica o maior risco para desenvolver doenças cardiovasculares nessa fase da vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Tchernof, A., Brochu, D., Maltais-Payette, I., Mansour, M. F., Marchand, G. B., Carreau, A.-M., & Kapeluto, J. (2018). Androgens and the Regulation of Adiposity and Body Fat Distribution in Humans. Comprehensive Physiology, 1253–1290. doi:10.1002/cphy.c170009
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