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  • Foto do escritorDra Maria Amélia Bogéa

Qual a relação entre a gordura corporal e a inflamação?

Atualizado: 21 de nov. de 2022


A obesidade, considerada a epidemia do século 21, é definida como o peso corporal desproporcional em relação a altura, aliada ao acúmulo de tecido adiposo. A patogênese dessa doença, está ligada a dois fatores que, apesar de distintos, estão correlacionados: o balanço energético positivo sustentado a longo prazo e a redefinição do ponto de ajuste do peso corporal em um valor mais alto. Além disso, a obesidade está relacionada ao desenvolvimento de diversas outras doenças como, por exemplo, diabetes mellitus tipo 2, doença hepática gordurosa não alcoólica, asma, variados tipos de câncer, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas.


Inflamação X Obesidade

Ademais, a obesidade é de forma frequente acompanhada por um estado inflamatório de baixo grau, por consequência do aumento dos marcadores de inflamação no organismo. Assim, por conta desse estado inflamatório crônico de baixo grau e pela ativação inespecífica do sistema imunológico, acredita-se que grande parcela das doenças associadas à obesidade sejam uma consequência desse estado.


Outrossim, com o balanço energético positivo, o eixo o cérebro-adipócito pode ser estimulado, o que resulta em uma produção excessiva de hormônios. Além disso, os adipócitos se multiplicam tanto em tamanho quanto em número, para conseguir acomodar a necessidade de maior armazenamento de lipídios, e consequentemente, esse aumento do tecido adiposo é seguido de várias alterações, como: na secreção de citocinas, depleção de oxigênio, necrose, aumento do recrutamento de células imunes e metabolismo de gordura desregulado, o que leva à inflamação.


Existe um gatilho inicial para a inflamação?

Nesse cenário, apesar de não ser bem compreendido, a teoria para o gatilho inicial da inflamação pode estar associada ao estresse homeostático que seria causado por um balanço energético positivo e um estado geral hiper anabólico. Assim, os adipócitos respondem a este estímulo liberando mediadores que iniciam a resposta imune adaptativa.


Dessa forma, podemos citar alguns gatilhos potenciais relacionados a inflamação associada à obesidade. Primeiro, o aumento na permeabilidade intestinal, causado pela disbiose, por exemplo, pode levar a um aumento da circulação de vários antígenos intestinais como o lipopolissacarídeo de bactérias Gram-positivas, que geram um importante gatilho inflamatório, o que inicia a inflamação via receptores de reconhecimento de padrões nos adipócitos.


Quando falamos dos componentes dietéticos e metabólitos, como os ácidos graxos livres, a literatura mostra que seus níveis aumentados podem iniciar a inflamação. Assim como, a hipóxia causada pela expansão do tecido adiposo e o estresse mecânico associado às interações entre adipócitos em expansão e matriz extracelular, pode iniciar e desencadear a inflamação no tecido adiposo.


Ainda nesse contexto, todo esse gatilho aumenta a produção de citocinas e quimiocinas pró-inflamatórias por adipócitos, o que pode gerar a morte dessas células. Quando isso ocorre, ocorre a sinalização associada à morte de adipócitos, que tendem a se acumular no tecido adiposo nos centros de estruturas semelhantes a coroas. Além disso, a literatura mostra a existência de um limiar em relação ao tamanho dos adipócitos, e consequentemente sua capacidade de armazenar lipídios. Vale lembrar que os adipócitos que tiveram um crescimento excessivo (hipertróficos), são muito mais suscetíveis a lesão e morte celular do que os adipócitos normais.


A modificação na função dos adipócitos

Nesse sentido, os adipócitos também desenvolvem alterações intracelulares que afetam sua funcionalidade, como um comprometimento no metabolismo mitocondrial que levam a disfunção e morte celular. Assim, essas células hipertróficas disfuncionais produzem um aumento anormal na quantidade de adipocinas e estimulam a quimiotaxia para recrutar macrófagos, assim por conta dessa cascata de sinalização ocorre um aumento da inflamação pela presença de células pró inflamatórias.


De uma maneira geral, é evidente que o excesso de gordura corporal está associado a um estado de inflamação crônica de baixo grau, além de que esse estado é considerado como um fator que aumenta susceptibilidade para o desenvolvimento de várias doenças.



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

UNAMUNO, X., et. al. Adipokine dysregulation and adipose tissue inflammation in human obesity. European Journal of Clinical Investigation, 2018, e12997. doi:10.1111/eci.12997

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