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Foto do escritorDra Maria Amélia Bogéa

Fatores endócrinos relacionados a depressão

Atualizado: 5 de out. de 2021


A depressão é um dos transtornos psiquiátricos mais comuns atualmente, por isso, pesquisas sobre o tema, aumentaram muito nos últimos anos. Por muito tempo, a ligação entre a depressão e o sistema endócrino tem sido investigada.


O eixo neuroendócrino estudado na depressão é o hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) e sua conexão com estruturas do sistema límbico, como o hipocampo e a amígdala. A divergência endócrina mais comum em indivíduos deprimidos é a hiperatividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal. 0 hipotálamo controla o sistema neurovegetativo que é importante em várias funções orgânicas como manutenção do equilíbrio térmico, metabolismo, controle da hipófise ,circulação sanguínea, estados de humor, mecanismo de vigília do sono entre outros.


É possível verificar o estado do eixo neuroendócrino realizando testes clínicos hormonais, pois distúrbios endócrinos possuem papéis importantes nas causas da depressão. Estes afetam vários locais no córtex pré-frontal, amígdala, hipocampo, etc. Tais deficiências ocasionam mudanças no volume, neuroplasticidade, conectividade neural, composição das sinapses e neurogênese.


Alterações nos hormônios e na função endócrina podem desempenhar um papel importante nos mecanismos subjacentes à fisiopatologia da depressão. Hormônios como glicocorticóides, que são hormônios esteróides sintetizados no córtex da glândula adrenal; a somatostatina também conhecida como hormônio inibidor da liberação de GH; os esteróides gonadais como testosterona, androstenediona,estradiol progesterona ; hormônios tireoidianos como tiroxina (T4) e triiodotironina (T3), contribuem para os déficits que definem amplamente a apresentação fisiopatológica da depressão.


Como os hormônios estão diretamente ligados à depressão é possível incluir a modulação hormonal no tratamento da depressão.


Antagonistas CRFR1

Os peptídeos hipotalâmicos (CRF )é um dos reguladores dos circuitos neurais relevantes para o estresse, ansiedade e processamento do humor. Os dois receptores predominantes de CRF (CRFR1 e CRFR2) também têm expressão extra-hipotalâmica significativa, implicadas na patogênese dos transtornos afetivos e de ansiedade.


O potencial dos antagonistas dos CRFR1(receptores predominantes dos peptídeos hipotalâmicos) é uma opção que pode ser incluída no tratamento, isso porque o excesso de produção de CRF participa da fisiopatologia da depressão. Estudos pré-clínicos mostraram que a injeção central ou superexpressão de CRF em certas áreas do cérebro, como a amígdala, gera fenótipos ansiosos e depressivos, e que os antagonistas de CRFR1 bloqueiam essas manifestações comportamentais diminuindo ações da depressão.


Antagonistas glicocorticóide

Na periferia e no cérebro, o cortisol atua por meio de dois modos distintos de sinalização: receptores de glicocorticóides ligados à membrana que ativam a sinalização de proteína quinase rápida e sinalização de receptor nuclear mais clássica e prolongada, em que os receptores de glicocorticóides intracelulares translocam para o núcleo para regular a expressão do gene.


Dois receptores ligam o cortisol: mineralocorticóide (MR) e glicocorticóide (GR). O MR tem uma afinidade maior para o cortisol do que o GR, e esse aumento da sensibilidade a baixas concentrações de cortisol permite que ele regule as flutuações fisiológicas na atividade de eixos hipotálamo-adrenal (por exemplo, o ritmo circadiano de liberação de cortisol). Porém o glicocorticóide é mais adequado para detectar altas concentrações de cortisol, como aquelas liberadas durante a resposta ao estresse, oque provoca os sintomas da depressão. .

Por isso o tratamento com antagonistas glicocorticóides é uma outra opção de modulação hormonal. Dados pré-clínicos de depressão apoiaram o uso de antagonistas de GR como agentes potencializadores, aumentando a velocidade do efeito e a eficácia geral dos antidepressivos e diminuindo o estresse.


Progesterona e seu derivado Alopregnanolona

A progesterona e seu metabólito, alopregnanolona, foram implicados em transtornos de humor relacionados a hormônios. A alopregnanolona é um neuroesteróide que é convertido da progesterona por enzimas. Em concentrações fisiológicas, a alopregnanolona atua como um modulador enzimático de neurotransmissores encontrado no cérebro, com potência semelhante ao lorazepam. Estudos pré-clínicos demonstraram que a alopregnanolona tem propriedades anti-ansiedade e antidepressivas significativas, bem como a capacidade de suprimir a atividade do eixo HPA, ajudando no tratamento da depressão .


Além desses tratamentos para modulação hormonal, existem outros como o uso do hormônio triiodotironina(T3) para aceleração do efeito antidepressivo e Terapia de reposição de estrogênio.

Ou seja, a depressão não está associada somente ao Sistema Nervoso Central mas também ao sistema endócrino. Sabendo qual alvo acertar, a medicina tem um caminho promissor para novas descobertas,e é importante que novos conhecimentos sobre a fisiopatologia endócrina da depressão sejam estudados para desenvolver agentes mais eficazes.


Referências:

Dwyer JB, Aftab A, Radhakrishnan R, Widge A, Rodriguez CI, Carpenter LL, Nemeroff CB, McDonald WM, Kalin NH; APA Council of Research Task Force on Novel Biomarkers and Treatments. Hormonal Treatments for Major Depressive Disorder: State of the Art. Am J Psychiatry. 2020 Aug 1;177(8):686-705. doi: 10.1176/appi.ajp.2020.19080848. Epub 2020 May 27. Erratum in: Am J Psychiatry. 2020 Jul 1;177(7):642. Erratum in: Am J Psychiatry. 2020 Oct 1;177(10):1009. PMID: 32456504; PMCID: PMC7841732.

Gold PW. Endocrine Factors in Key Structural and Intracellular Changes in Depression. Trends Endocrinol Metab. 2021 Apr;32(4):212-223. doi: 10.1016/j.tem.2021.01.003. Epub 2021 Feb 20. PMID: 33622587.

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