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Foto do escritorDra Maria Amélia Bogéa

Será se o tecido adiposo pode ser considerado um órgão endócrino?



No corpo humano, o tecido adiposo divide-se, em termos de localização, em:

  • Tecido adiposo visceral: refere-se a gordura que é acumulada nas camadas profundas do abdômen e em volta dos órgãos, entre as vísceras.

  • Tecido adiposo subcutâneo: refere-se a gordura que é acumulada sob a pele, principalmente no culote, nas nádegas e nas pernas.

O tecido adiposo visceral subdivide-se, de acordo com a sua localização, em: Intratorácico (parte interna do tórax), abdominal e assim por diante. Para além da divisão em termos de localização anatômica, o tecido adiposo no ser humano é também diferenciado de acordo com as características químicas e de funcionamento, com as propriedades de armazenamento de lipídeos e de acordo com o perfil de expressão genética, em:

  • Tecido adiposo branco (TAB)

  • Tecido adiposo marrom (TAM)

O tecido adiposo branco tem a sua expressão mais acentuada no ser humano adulto. Por sua vez, o tecido adiposo marrom, tem como função a termogênese termorregulatória, contribuindo para a resistência ao frio e, apesar de abundante em recém nascidos, tende a diminuir à medida que o ser humano envelhece.


As características morfológicas do TAM conferem a este tecido uma maior capacidade de armazenamento de energia, o que por sua vez, torna estes depósitos mais vascularizados que o TAB.


Recentemente, foi também caracterizado um terceiro tipo de TA, denominado tecido adiposo bege (TABe). Em termos fenotípicos, o TABe é definido como sendo um tecido que pode ser modificado, semelhante ao TAM mas que se encontra entre o tecido adiposo branco e marrom.


Apesar dos adipócitos serem o maior constituinte do tecido adiposo no ser humano, existem inúmeras outras células responsáveis pelo armazenamento de triglicérides, que normalmente, se localizam no estroma (tecido conjuntivo vascularizado de sustentação de órgãos ou tecidos) do TA, como os macrófagos, linfócitos e eosinófilos, fibroblastos, pré-adipócitos, células vasculares que formam a microvasculatura do TA e células estaminais do mesenquêmia (tecido conjuntivo embrionário).


Por sua vez, as células adiposas produzem e secretam adipocinas e outros mediadores, tais como: proteínas do sistema fibrinolítico, proteínas do complemento e relacionadas, enzimas, proteínas do eixo renina-angiotensina, lípidos e seus transportadores, que exercem efeitos parácrinos, autócrinos e endócrinos, tanto a nível local como efeitos distantes.


Tecido adiposo como órgão endócrino


O tecido adiposo, que anteriormente era reconhecido apenas pela sua função de armazenamento de gordura, isolamento mecânico e térmico e pelo seu papel ativo na termogênese, reconhece-se agora como um órgão endócrino complexo e ativo metabolicamente, capaz de sintetizar moléculas, dentre elas as adipocinas, que são peptídeos bioativos expressos e excretados por meio do tecido adiposo e atuam como hormônios capazes de influenciar a homeostase energética e regular a função neuroendócrina.


As adipocinas são divididas em pró-inflamatórias (grupo que aumenta a resposta inflamatória) e anti-inflamatórias (grupo que diminui a resposta inflamatória). As mesmas, apresentam o seguinte comportamento usual: pró-inflamatórias em menor quantidade e anti-inflamatórias em maior quantidade.


Adipocinas Pró–inflamatórias

As adipocinas pró-inflamatórias trabalham na promoção das respostas inflamatórias, ou seja, elas dão uma garantia de que haja todo processo de reconhecimento de um corpo estranho para que este, possa assim, ser eliminado pelas células responsáveis. Além dessa função, elas desempenham diferentes papéis de acordo com seu tipo, como regulação da resistência à insulina (resistina) e indução da saciedade (leptina), mostrando dessa forma a importância dessas moléculas.

Leptina- “Hormônio da saciedade” ou “Hormônio da fome”

No sistema nervoso central, mais precisamente no hipotálamo, órgão conhecido como responsável pela liberação de hormônios, a leptina tem como ponto chave o controle do balanceamento energético do organismo e a redução do apetite.

A leptina atua de duas formas: a primeira ação é relacionada com a indução da expressão de neuropeptídeos que estão relacionados à inibição da ingestão alimentar, elevando assim o consumo de energia total. A segunda ação é através do bloqueio da manifestação do neuropeptídeo Y (NPY) e peptídeo AgRP, que estão relacionados com a elevação do estímulo de consumo alimentar, e uma diminuição do consumo energético.

Resistina

É encontrada em grandes níveis no tecido adiposo do abdômen, coxa e mama. Sua expressão está diretamente relacionada com a resistência à insulina e regulação da adipogênese (processo de diferenciação celular em que os pré-adipócitos tornam-se adipócitos). Sua função estende-se ainda ao bloqueio da leptina, adipocitocina que induz à saciedade. É ainda tida como um simples marcador de inflamação.


Adipocinas anti–inflamatórias


As adipocinas anti-inflamatórias apresentam efeitos benéficos, como a melhora da sensibilidade à insulina, a regulação de receptores e da atividade da lipase hepática, bem como dos níveis de HDL. Além disso, essas adipocinas demonstram ações tanto sobre as células do sistema imune, quanto nos mecanismos de retroalimentação negativas em outras moléculas pró-inflamatórias, sendo um dispositivo natural do corpo contra os processos inflamatórios recorrentes e suas complicações.

Adiponectina

Possui diversas funções, sendo elas: capacidade anti-inflamatória, anti-diabética, anti-tumor, além de diminuir os riscos de ocorrência da inflamação vascular.

Interleucina–4 e Interleucina–10

A IL-4 é produzida pelos linfócitos T-CD4, mastócitos, eosinófilos e basófilos, que realizam função anti-inflamatória e diminuem concomitantemente os níveis das citocinas pró-inflamatórias, além de acionar e diferenciar células B, sendo a principal responsável pela produção dos anticorpos IgE e desenvolvimento de células Th2.

A IL-10, produzida pelos macrófagos e linfócitos, possui um grande potencial anti-inflamatório capaz de atenuar as inflamações. Sua função é essencial para regulação do sistema imunológico, inibindo a geração e/ou expressão de adipocinas pró-inflamatórias.

Levando em consideração as informações referidas, o tecido adiposo é responsável pela produção e libertação de moléculas que irão ter diversos efeitos no metabolismo do ser humano, nomeadamente na regulação da fome e saciedade, na resistência à insulina e na inflamação dos tecidos.

Referências:


PINTO, W. de J. (2014). A função endócrina do tecido adiposo. Revista Da Faculdade De Ciências Médicas De Sorocaba, 16(3), 111–120. Recuperado de https://revistas.pucsp.br/index.php/RFCMS/article/view/14868

SOARES, P. E. M.; FERREIRA, E. T. de O.; MAFRA, G. C. da S.; SILVA, J. G. da; SANTOS, R. L. dos; FARIAS, J. V. C.; FARIAS, I. C. C. The Role of Adipokines in the Immunology of Obesity. Research, Society and Development, [S. l.], v. 9, n. 7, p. e935975095, 2020. DOI: 10.33448/rsd-v9i7.5095. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/5095. Acesso em: 18 aug. 2021.

FONSECA RAPOSO H. Tecido adiposo: suas cores e versatilidade . hu rev [Internet]. 29º de dezembro de 2020 [citado 18º de agosto de 2021];46:1-12. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/hurevista/article/view/31268


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