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  • Foto do escritorDra Maria Amélia Bogéa

Quais os impactos do álcool nos hormônios anabólicos?

Atualizado: 21 de nov. de 2022


Os hormônios são responsáveis pela comunicação integrada de diversos sistemas fisiológicos incumbidos pela modulação do crescimento e desenvolvimento celular. Ainda assim, a sinalização desencadeada por esses hormônios pode ser descrita como uma parte crítica da comunicação, a qual governa as atividades básicas e coordena as ações celulares. Toda essa sinalização hormonal, faz parte de um sistema complexo que envolve uma infinidade de moléculas.


Nesse contexto, três hormônios são considerados “gigantes anabólicos” no crescimento e reparo celular, sendo eles: a testosterona, o hormônio do crescimento e a insulina. Além disso, a função destes no organismo é extremamente importante, mas é válido lembrar que eles podem ser afetados pela presença de algumas substâncias, como o álcool.


Álcool e Testosterona

A testosterona é um hormônio esteroide que desempenha papel tanto anabólico quanto androgênico. Ao todo, esse hormônio exerce variadas funções ergogênicas, anabólicas e anticatabólicas no músculo esquelético e no tecido neuronal, a qual, de maneira dose-dependente, leva a um aumento da força muscular, potência, resistência e hipertrofia.


Ademais, quando falamos do consumo de álcool relacionado a testosterona, estudos mostram uma alteração hormonal em um período de 12 e 24 horas após o consumo dessa substância. Ou seja, a literatura evidencia que o álcool possui a capacidade de diminuir a quantidade de testosterona livre e de aumentar a quantidade de cortisol. Isso ocorre, pois o álcool age no eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, isto é, tem a capacidade de alterar a secreção hormonal no nosso organismo. O resultado disso, é a degradação de proteínas musculares desencadeada pelo cortisol, associado a uma redução do crescimento muscular pelos baixos níveis de testosterona.


Álcool e insulina

A insulina é um dos principais hormônios anabólicos, o qual promove a deposição de fontes de carbono vindos da dieta. A síntese, controle de qualidade, entrega e ação deste hormônio, é regulada em diferentes órgãos. As funções da insulina são desempenhadas por mecanismos celulares altamente regulados, começando a produção nas células beta pancreáticas, até a depuração parcial pelos hepatócitos, seguida da entrega e ação no endotélio vascular - em que suas funções são principalmente no nível do cérebro, fibras musculares e adipócitos - terminando com a degradação da insulina no rim.


Nesse sentido, um estudo in vivo mostrou que a exposição crônica ao etanol desencadeou a lipólise nos adipócitos, tecido responsável pelo armazenamento de energia excessiva advinda dos alimentos. Adicionado a isso, por conta da liberação na circulação de ácidos graxos livres, advindos da lipólise, o fígado esterifica essas moléculas para formar triacilglicerol, o que leva ao desenvolvimento do fígado gorduroso.


O desfecho desse cenário é que a insulina modula o eixo adiposo-fígado, o qual influencia o metabolismo lipídico, e apesar da sua secreção ser influenciada principalmente pelo estado nutricional do corpo, isto é, a presença de glicose, ácidos graxos livres e aminoácidos, este também pode ser influenciado pela presença da grelina, secretado principalmente pelo estômago, uma vez que este inibe a secreção de insulina pelas células beta e se encontra em níveis elevados em indivíduos alcoólatras. Logo, foram apresentadas evidências de que a elevação dos níveis circulantes de grelina induzida pelo álcool prejudica a secreção de insulina.


Álcool e hormônio do crescimento

Por fim, o hormônio do crescimento, também conhecido como GH, é essencial para o crescimento de todos os tecidos do corpo, o qual estimula a síntese de proteínas e aumenta o metabolismo dos lipídeos para disponibilizar energia suficiente para o crescimento.


Nesse sentido, quando liberado na corrente sanguínea, o GH pode atuar nos tecidos alvo e afetar sua função ou pode estimular o fator de crescimento semelhante à insulina-1 (IGF-1), principalmente no fígado, o que irá promover o crescimento. Assim, a literatura mostra que quando o organismo é exposto ao etanol, esse mecanismo, que está sob o controle do hipotálamo, é reduzido. Nesse sentido, o álcool é uma substância que afeta o eixo GH/IGF-1, isto é, ele leva a redução tanto do hormônio do crescimento quanto do fator de crescimento semelhante à insulina-1.



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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