Dados revelam que os primeiros dois anos de vida são essenciais para a conquista de uma alimentação saudável do indivíduo no futuro. Logo, as evidências mostram que há pouca chance de crianças obesas não serem obesas na vida adulta. Por isso, o olhar para a obesidade infantil tem caráter preventivo e se mostra cada vez mais necessário na sociedade atual.
Um dos motivos das complicações de doenças na vida adulta é o estabelecimento de uma microbiota intestinal instável durante a infância, isso porque uma má colonização nesses primeiros anos pode influenciar os resultados de saúde a longo prazo. A comunidade microbiana do intestino infantil é considerado um ponto importante para a programação metabólica e imunológica no início da vida, podendo afetar a suscetibilidade do indivíduo a doenças futuramente, por isso esse período de introdução alimentar é um fator importante que contribui para o combate de doenças futuras como Diabetes Mellitus, doenças cardiovasculares, câncer, doenças respiratórias , osteoporose, hipertensão, além de menor expectativa de vida.
Na infância a alimentação geralmente acompanha duas grandes transições. A primeira transição ocorre logo após o nascimento, durante a lactação e a segunda transição ocorre durante o período de desmame, nos dois primeiros anos de vida, com a introdução de alimentos sólidos.
O aleitamento materno exclusivo até o sexto mês e alternado com alimentos até pelo menos 2 anos de idade é fundamental na prevenção de doenças tanto a curto como a longo prazo. Isso porque o aleitamento materno proporciona também melhora do vínculo mãe-filho, ausência de sobrecarga renal de solutos, melhor digestibilidade e biodisponibilidade de nutrientes, melhora da aceitação de novos alimentos no desmame e custo menor quando comparado com alimentação artificial. Além disso, quanto ao desenvolvimento neurológico, a amamentação tem sido relacionada a desempenho ligeiramente melhor em testes de desenvolvimento cognitivo.
Para os casos em que não se consegue o aleitamento materno, há alternativas alimentares por meio de fórmulas lácteas disponíveis no mercado que são preparadas para suprir as necessidades nutricionais, porém nunca com a excelência do leite materno.
Na introdução a alimentos sólidos o consumo precoce de alimentos como sobremesas e doces em crianças menores de até 2 anos de idade está associado com aumento na ingestão de energia e uma menor aceitação no consumo de frutas e hortaliças. Isso porque é na infância que os hábitos alimentares começam a ser formados e isso reflete nas escolhas alimentares da fase adulta, por isso é importante na introdução alimentar a escolha de alimentos que irá promover a saúde na criança durante a infância e consequentemente na fase adulta.
Alguns passos para a introdução alimentar são importantes:
-Oferecer alimentos in natura ou minimamente processados além do leite materno, a partir dos 6 meses.
-Oferecer água própria para consumo à criança em vez de sucos, refrigerantes e outras bebidas açucaradas.
-Não oferecer açúcar nem preparações ou produtos que contêm açúcar à criança até os dois anos de idade.
-Não oferecer alimentos ultraprocessados para a criança.
-Zelar para que a hora da alimentação da criança seja um momento de experiências positivas , aprendizado e afeto junto a família.
Um outro ponto importante é como os meios de comunicação são influenciadores importantes ao consumo de alimentos industrializados.É comum encontrar restaurantes de fast food com embalagens especiais para crianças e brindes que chamam a atenção como brinquedos. As crianças e adolescentes são extremamente suscetíveis e sensíveis ao marketing, além disso são influenciados pelas escolhas de seus responsáveis, por isso a família ou a escola têm a responsabilidade de favorecer a adoção de um comportamento alimentar saudável por parte das crianças.
Os pais exercem importante papel de modelo para seus filhos auxiliando-os nas práticas alimentares e estabelecendo os alimentos, o local e o momento adequado para seu consumo, mas permitindo que a criança utilize os seus próprios recursos e respeitando sempre a sua saciedade. Para isso, é importante criar opções atrativas e nutritivas para que as crianças componham adequada e equilibradamente sua dieta.
A prática de uma dieta balanceada e hábitos alimentares saudáveis desde a infância proporcionarão níveis ideais de saúde e favorecer o perfeito desenvolvimento físico e intelectual, reduzindo os transtornos causados pelas deficiências nutricionais comuns a este estágio de desenvolvimento e evitando a manifestação da obesidade e outros distúrbios alimentares futuramente.
Referências:
NETO, Henrique Polizelli Pinto; FIGUEIREDO, Jéssica Thaynna Resende; MIGUEL, Camila Botelho. HIPERTENSÃO, DIABETES MELLITUS E OBESIDADE: MEIOS DE PREVENÇÃO E REDUÇÃO DE CUSTOS PARA O SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE NO BRASIL.
https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/ciencia-e-saude/2019/08/27/interna_ciencia_saude,779381/indices-de-obesidade-em-adultos-esta-diretamente-relacionado-a-infanci.shtml
YAVORIVSKI, Andressa. Atenção plena no tratamento de comportamentos alimentares associados a sobrepeso e obesidade: uma revisão sistemática. 2021.
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