top of page
Foto do escritorDra Maria Amélia Bogéa

O que é preciso fazer para se ter equilíbrio hormonal?


Os hormônios são substâncias produzidas por diversas glândulas e órgãos, localizados em diferentes pontos do corpo, desde o cérebro até a região pélvica. Atuam de maneira instrumental no crescimento, metabolismo e manutenção da homeostase, orquestrando diversos processos. A relevância que os hormônios têm na coordenação de respostas fisiológicas, faz com que sua secreção seja finamente regulada, principalmente por mecanismos de feedback: quando há sinalização de baixa quantidade, a produção aumenta; se há demais, a produção diminui.


Em um ambiente saudável, esses mecanismos são fundamentais para que se instale um equilíbrio hormonal, caracterizado pela presença em níveis adequados de todos os hormônios necessários para a homeostase do organismo. Algumas condições autoimunes são marcadas por um desbalanço endócrino, como as que atingem a tireoide, importante glândula localizada na região do pescoço. Mas além disso, existem outras situações que desequilibram a produção hormonal. Pensando nelas, podemos definir alguns importantes fatores de estilo de vida que garantem o equilíbrio dos hormônios.


A manutenção do peso adequado é uma das primeiras bases para manter as taxas hormonais em nível satisfatório. A obesidade é caracterizada por uma série de condições que, em si, já indicam desbalanço hormonal, como a própria resistência à insulina, na qual maior quantidade desse hormônio precisa ser produzida para tentar manter os níveis glicêmicos adequados. Além disso, é comum a instalação de quadros de hipogonadismo em homens com excesso de peso, nos quais uma das características é a diminuição de SHBG, a globulina que faz o transporte de hormônios sexuais pela corrente sanguínea, o que diminui a quantidade de hormônios biodisponíveis.


Nas mulheres com IMC elevado, a infertilidade pode se instalar, devido ao hiperandrogenismo resultante do excesso de insulina. Ambos os sexos, quando em estado de obesidade, também tendem a sofrer com a deficiência na atuação de GH, um hormônio que mobiliza gordura para geração de energia e estimula a síntese proteica. O aumento nos níveis de cortisol, TSH e diminuição de vitamina D são outros exemplos de desequilíbrio hormonal causado pelo excesso de peso.


No extremo contrário, está a baixa disponibilidade de energia, caracterizada por baixos níveis de energia dietética disponíveis para o funcionamento fisiológico normal depois do gasto com exercícios. Nesses casos, acontece uma alteração em níveis de hormônios que controlam o apetite e o controle glicêmico, que tendem a reduzir, ao passo que o cortisol, relacionado ao estresse, aumenta. Isso acontece principalmente em casos de restrição energética, o que nos leva à outra maneira de garantir equilíbrio hormonal: alimentação adequada em quantidade e qualidade, tendo em vista que garantir um cenário livre de estresse oxidativo e inflamação também é importante para a função hormonal.


A prática física, além de ajudar no controle do peso, também altera a resposta do sistema endócrino, como uma forma de auxiliar o organismo a se adaptar às novas necessidades fisiológicas resultantes do exercício. Quando realizado de maneira adequada, o exercício físico tem o potencial de atuar de maneira positiva em aspectos endócrinos, melhorando a funcionalidade de tecidos e órgãos, e consequentemente, trazendo benefícios para a saúde.


Dormir bem: atitude essencial na regulação endócrina. Isso se deve ao fato de que os eixos de produção de hormônios apresentam uma ritmicidade importante para manter a homeostase e estabilizar as funções fisiológicas para lidar com as perturbações externas. Privação e fragmentação do sono são condições reconhecidamente relacionadas à distúrbios hormonais, aumentando o risco de obesidade, diabetes e hipertensão. O aumento do cortisol, diminuição da sensibilidade à insulina, alterações nos níveis de melatonina e na secreção de leptina e grelina (relacionados à fome e saciedade) são alguns padrões observados quando ocorre disrupção do padrão de sono em relação ao ciclo circadiano.


Existem substâncias que têm o potencial de interferir na síntese, secreção, transporte, ligação ou eliminação de hormônios produzidos naturalmente no corpo, o que afeta diretamente as funções por eles reguladas. Esses compostos podem estar presentes nos alimentos, de forma natural ou por acumulação na cadeia alimentar, visto que são produzidos pela indústria e acabam contaminando a água, solo e o ar. Alguns exemplos são o BPA, presente em plásticos; os PCBs, PBBs e as dioxinas, usados em solventes e lubrificantes; os pesticidas e fungicidas, largamente utilizados como agrotóxicos e os parabenos, presentes em cosméticos e roupas. São conhecidos como disruptores endócrinos e é preciso evitar ao máximo o contato com eles.


Apesar das evidências ainda serem limitadas, é promissor o papel da meditação na função endócrina, melhorando a saúde mental.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Poddar, M., Chetty, Y., & Chetty, V. T. (2017). How does obesity affect the endocrine system? A narrative review. Clinical Obesity, 7(3), 136–144. doi:10.1111/cob.12184

Morgan, D., & Tsai, S. C. (2015). Sleep and the Endocrine System. Critical Care Clinics, 31(3), 403–418. doi:10.1016/j.ccc.2015.03.004

Elliott-Sale, K. J., Tenforde, A. S., Parziale, A. L., Holtzman, B., & Ackerman, K. E. (2018). Endocrine Effects of Relative Energy Deficiency in Sport. International Journal of Sport Nutrition and Exercise Metabolism, 28(4), 335–349. doi:10.1123/ijsnem.2018-0127

Hackney, A. C., & Lane, A. R. (2015). Exercise and the Regulation of Endocrine Hormones. Molecular and Cellular Regulation of Adaptation to Exercise, 293–311. doi:10.1016/bs.pmbts.2015.07.001

Pascoe, M. C., Thompson, D. R., & Ski, C. F. (2020). Meditation and Endocrine Health and Wellbeing. Trends in Endocrinology & Metabolism. doi:10.1016/j.tem.2020.01.012

Kabir, E. R., Rahman, M. S., & Rahman, I. (2015). A review on endocrine disruptors and their possible impacts on human health. Environmental Toxicology and Pharmacology, 40(1), 241–258. doi:10.1016/j.etap.2015.06.009

Comments


bottom of page