Apesar de apresentar um funcionamento extremamente complexo e que em certos momentos chega até a intrigar a nossa própria mente, sabemos que o corpo humano não é uma máquina. Mas além de compartilhar a característica de funcionar de maneira interligada e complexa, o nosso organismo apresenta uma outra similaridade fundamental às máquinas: está exposto ao desgaste.
Desde o momento em que nascemos, as estruturas que compõem o corpo já estão envelhecendo, seja pelo desgaste gerado pelo seu próprio funcionamento, seja pela exposição à “agressões” ambientais, como poluição, luz, solar, e xenobióticos. E é o acúmulo desses processos que leva às alterações fisiológicas que se manifestam em idade mais avançada. Nas mulheres, um fenômeno bastante marcante desse “desgaste” é a menopausa.
As mulheres nascem com uma quantidade determinada de folículos ovarianos que serão expostos à passar por estimulação hormonal e se desenvolver. A partir da menarca, todos os meses, alguns desses folículos são recrutados e apenas um deles chega ao estágio máximo de desenvolvimento e expulsa o ovócito para, possivelmente, ser fecundado. Os outros, sofrem atresia (um processo de involução do folículo). Com isso, chega uma hora que esse estoque acaba. E a função reprodutiva feminina entra em senescência. É importante lembrar que o desenvolvimento dos folículos estimulado pelo hormônio FSH é um dos principais processos associados à produção de estradiol ovariana, e quando essa sinalização cessa (a queda do FSH é um dos primeiros sinais bioquímicos da menopausa), os níveis do estradiol também reduzem drasticamente.
A diminuição dos níveis de estrogênio na menopausa é responsável pela maioria dos sintomas experienciados, pois acaba impactando uma série de sistemas fisiológicos que, durante a vida da mulher, são bastante estimulados por esse hormônio. O tecido muscular perde consideravelmente a sua capacidade de anabolismo, além de estar mais suscetível ao catabolismo; os ossos perdem densidade mineral; a estimulação para produção de colágeno já não é mais a mesma e a pele sofre alterações na estrutura física de suas camadas e, consequentemente, no seu aspecto visual, e os tendões e ligamentos, estruturas cartilaginosas ricas em colágeno, também são afetadas.
Alterações na região pélvica, na bexiga e na vagina, como a secura vaginal, são sintomas dos menores níveis estrogênicos. Além disso, como existem receptores para esse hormônio no cérebro, a plasticidade neural e a transmissão neuronal ficam prejudicados, levando ao surgimento de mudanças de humor, maior prevalência de sintomas depressivos, diminuição da concentração e memória.
Como o estradiol atua, ainda, em mecanismos que induzem a vasodilatação e a melhora do metabolismo lipídico, a menopausa é marcada por maior risco cardiovascular. Soma-se a isso, o fato de que algumas mulheres, que possuem um perfil mais androgênico, acabam desenvolvendo uma redistribuição da gordura, para um perfil mais visceral e inflamatório (piorando os riscos metabólicos). Mas no geral, o que se vê em relação à testosterona, é a redução drástica dos níveis desse, afetando ainda mais a disposição, vitalidade, saúde muscular e sexual.
Conhecer e considerar essas importantes alterações hormonais é de extrema importância para realizar o melhor manejo dos sintomas da menopausa, dependendo de quais se manifestam e da sua intensidade. As terapias de reposição hormonal podem ser extremamente válidas em alguns casos, mas apenas com acompanhamento por profissional capacitado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Schwenkhagen, A. (2007). Hormonal Changes in Menopause and Implications on Sexual Health. The Journal of Sexual Medicine, 4, 220–226. doi:10.1111/j.1743-6109.2007.00448.x
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