A endometriose é uma doença de caráter inflamatório caracterizada pela presença de tecido endometrial fora da cavidade uterina, sendo os sintomas mais clássicos, de forma geral, a dor pélvica e infertilidade. Como vocês sabem, o ciclo menstrual, biologicamente falando, acontece para que possa acontecer a reprodução. Com isso, o corpo da mulher se prepara para ovular e para que aquele óvulo seja fecundado, ou seja, acontece toda uma preparação do ambiente uterino para suportar a gestação.
O endométrio é a camada que reveste o útero e é estimulada a se proliferar a cada ciclo menstrual para formar a “caminha” onde o feto vai se desenvolver. Mas quando a fecundação não ocorre e os níveis de progesterona e estrogênio caem abruptamente, a liberação do sangue que chamamos de menstruação é justamente a camada de endométrio que se formou, mas não teve necessidade para sustentar o desenvolvimento fetal.
O que acontece é que, em algumas mulheres, porções desse tecido endometrial chegam a regiões que não o útero e ali se proliferam. O crescimento desse tecido fora da porção uterina comumente acontece na região pélvica e abdominal. Um dos mecanismos utilizados para explicar a origem da endometriose é a menstruação retrógrada, que explica como as células endometriais chegaram a essas porções acima do útero, anatomicamente falando. O difícil de entender é o fato de que uma grande parte das mulheres apresenta menstruação retrógrada mas não desenvolve endometriose.
As lesões endometrióticas podem variar em estágios, indo desde lesões superficiais até cistos e nódulos. Quando uma lesão infiltra > 5 mm no tecido que se encontra, é classificada como endometriose profunda. E é aqui que começa a surgir o entrelace e as dúvidas a respeito das diferenças entre a endometriose e a adenomiose.
Por definição, a adenomiose é caracterizada pela presença de “ilhas de tecido endometrial, circundadas por células musculares lisas hipertrofiadas na região do miométrio”. O miométrio é a camada muscular e mais interna do útero. O que acontece é que muitas vezes, as lesões endometrióticas mais profundas podem ser confundidas com a adenomiose, e vice-versa, mas trata-se de condições que, apesar de algumas similaridades, são diferentes na sua fisiopatologia e apresentação histológica.
Ambas as condições têm o crescimento das lesões estimulado e dependente de estrogênio. Na endometriose, muitas vezes é feito o uso de progestágenos como medida clínica para controlar os sintomas. Assim como na adenomiose, o manejo das dores costuma ser feito com uso de medicamentos e, em alguns casos mais graves, é recomendada a realização de cirurgia para retirada das lesões. Nessa modalidade cirúrgica, a recorrência é possível e costuma acontecer em muitos casos. Na adenomiose, a histerectomia é a única cura possível, enquanto na endometriose, devido à localização mais diversa das lesões, ainda não existe uma opção para curar a doença. Hoje em dia, modificações alimentares que permitem reduzir o estado de inflamação corpóreo são propostas como fundamentais para manejar as dores nessas condições.
As tentativas de elucidar com mais clareza as diferenças nas causalidades e vias patofisiológicas das duas condições ainda estão em andamento. Muitos estudiosos, inclusive, consideram ambas como a mesma doença com fenótipos diferentes. Um diagnóstico adequado por exame de imagem é primordial para a correta identificação e decisão do melhor manejo, ou necessidade de realização de cirurgias.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Koninckx, P. R., Ussia, A., Adamyan, L., Wattiez, A., & Donnez, J. (2012). Deep endometriosis: definition, diagnosis, and treatment. Fertility and Sterility, 98(3), 564–571. doi:10.1016/j.fertnstert.2012.07.1061
Gruber, T. M., & Mechsner, S. (2021). Pathogenesis of Endometriosis: The Origin of Pain and Subfertility. Cells, 10(6), 1381. doi: 10.3390/cells10061381
Maruyama, S., Imanaka, S., Nagayasu, M., Kimura, M., & Kobayashi, H. (2020). Relationship between adenomyosis and endometriosis; Different phenotypes of a single disease? European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology, 253, 191–197. doi:10.1016/j.ejogrb.2020.08.019
Bulun, S. E., Yildiz, S., Adli, M., & Wei, J. J. (2021). Adenomyosis pathogenesis: insights from next-generation sequencing. Human Reproductive update, 27(6), 1086-1097. doi: 10.1093/humupd/dmab017
Comments