Também conhecida como “transição menopausal”, a perimenopausa compreende o período em que mudanças fisiológicas complexas acontecem no corpo feminino, em direção à menopausa, o fim do período menstrual. Como o próprio nome sugere, estamos falando de um período periférico à menopausa, em que as alterações hormonais associadas ao declínio da função ovariana se manifestam em sintomas bem característicos do fim da vida reprodutiva feminina, esta marcada pela amenorréia hipo gonádica e hipergonadotrófica.
Não existe um tempo específico de duração da perimenopausa: depois de um ano seguido de amenorréia, considera-se que a mulher está menopausada, mas a transição, com ciclos irregulares, pode chegar a 4 anos. Trata-se de um momento delicado, na qual mudanças fisiológicas, psicológicas, afetivas e até sociais estão presentes e podem afetar muito a qualidade de vida da mulher.
Podemos dividir a perimenopausa em dois estágios: o inicial é quando as irregularidades no ciclo menstrual começam a surgir, mas a diferença na duração dos ciclos é de apenas alguns dias, podendo ocorrer alguns episódios de amenorréia. Quando o período amenorreico (sem menstruar) chega a 60 dias ou mais, já houve uma transição para o estágio final, no qual as flutuações hormonais são mais marcantes e os sintomas costumam ser mais intensos. Esse não é um modelo definido de como a perimenopausa acontece: cada mulher é única e vai viver essa fase de forma individual. Principalmente para mulheres que sofrem com condições que afetam a regularidade menstrual durante a vida fértil, como a Síndrome dos Ovários Policísticos, fica ainda mais difícil de perceber a nuance desses dois estágios.
Em relação aos hormônios, o evento inicial para dar início à essa transição é a diminuição da inibina B, que reduz a secreção de FSH pela pituitária a partir de feedback negativo. Com isso, o FSH aumenta, estimulando de maneira acelerada a foliculogênese ovariana. Esse processo estimula uma elevação de estradiol que está associada aos estágios iniciais da perimenopausa, como os sangramentos irregulares. Com a progressão da transição, o estradiol e a inibina A começam a cair, caracterizando o estágio final desse processo até o início efetivo da menopausa.
As principais queixas das mulheres nessa fase de transição são as famosas ondas de calor (também conhecida como fogachos); alterações na vulva/vagina e uretra, resultando em secura vaginal e incontinência urinária; perda de libido, queda da auto estima, insônia, prejuízos cognitivos - como diminuição da memória - e surgimento de sentimentos depressivos; além de ser muito comum o início da perda de densidade óssea. De uma forma geral, o manejo para cada mulher é único dependendo da apresentação e intensidade dos sintomas.
Como durante a perimenopausa ainda existe - por mais que muito reduzida - a possibilidade da gestação, que nessa fase representa risco para a mãe e para o bebê, a contracepção continua sendo fundamental. Se optar pelo uso de métodos contraceptivos orais, inclusive como uma maneira de reduzir os sintomas, indicam-se as formulações com doses mais baixas de etinilestradiol. Quando já existem condições de risco (como histórico familiar e pessoal de doenças cardiovasculares, câncer e IMC elevado, por exemplo) é melhor dar preferência para métodos não hormonais de contracepção.
Uma alimentação saudável, equilibrada e suficiente, prática de atividades físicas, evitar o consumo de álcool e tabaco e realizar atividades que favoreçam o bem estar mental são medidas quase que obrigatórias nessa fase da vida, independentemente do método de tratamento utilizado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Troìa, L., Martone, S., Morgante, G., & Luisi, S. (2020). Management of perimenopause disorders: hormonal treatment. Gynecological Endocrinology, 1–6. doi:10.1080/09513590.2020.1852544
Delamater, L., & Santoro, N. (2018). Management of the Perimenopause. Clinical obstetrics and gynecology, 61(3), 419–432. doi: 10.1097/GRF.0000000000000389
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